Lídia Jorge no dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor e de São Jorge
na Universidade de Montreal



Reportagem e fotos de Vitália Rodrigues



Lídia Jorge e Luís Aguilar


Lídia Jorge com Lise Rebout, uma das grandes dinamizadoras deste evento literário, no quadro das suas actividades da Europe(a) e do Lisez L'Europe que, por sugestão de Luís Aguilar, convidou
Lídia Jorge


Luís Aguilar, Lídia Jorge, Helen Fotopulos, Èric Viladrich
e David Homel



Luís Aguilar, Lídia Jorge e Helen Fotopulos


David Pereira, Vitalia Rodrigues, Lídia Jorge,
Luís Aguilar e Teresa Pinto




Mathew Miller, estudante de origem americana, de Português Elementar, revela a Lídia Jorge o seu interesse pela língua de Camões e o seu espanto pela mesma ser tão diferente
da língua de Cervantes.





Isabel dos Santos, actriz e autora, ex-autarca, David Pereira, chanceler, à esquerda de Lídia Jorge e Luís Agular (ao centro) e Teresa Pinto, professora de língua e cultura portuguesas, à direita, tertuliam sobre a necessidade de afirmação da nossa pujante literatura no espaço montrealense.

Realizou-se no dia 23 de abril de 2010, das 18 às 20.30 horas, na Agora da Biblioteca de Letras e Ciências Humanas da Universidade de Montreal um evento literário que reuniu mais de uma centena de pessoas, que ali celebraram o Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor, que homenageia desde 1995, por iniciativa da UNESCO, em todo o mundo, o livro, a leitura e a literatura mundial. Com efeito, a 23 de Abril de 1616 morreu Miguel de Cervantes, a 23 de Abril nasceu em 1564 e morreu em 1616 William Shakespeare, a 23 de Abril de 1899 nasceu Vladimir Nabokov e a 23 de Abril de 2010 esteve pela primeira vez uma autora literária portuguesa na Universidade de Montreal: Lídia Jorge. No dia de São Jorge que, segundo a lenda catalã, no dia de 23 de Abril, os cavalheiros ofereciam uma rosa à sua amada que, por sua vez agradecia, oferecendo-lhes um livro. Por isso, este evento celebrava, igualmente, o dia da Rosa e da Liberdade dos catalães.

Esta instalação literária proposta pelo professor de Catalão, Èric Viladrich Castellanas, foi organizada pela secção de Estudos Catalães da Universidade de Montreal, pela Casal Català, pelo grupo Europe(a) e pelo círculo de leitura de Montreal "Lisez l'Europe !", a que se associaram vários Institutos (Goethe, Instituto de Cultura Italiano, Instituto Camões), a livraria las Américas e ainda o Centro de Línguas da Universidade de Montreal e o Departamento de Línguas e Literaturas Modernas daquela mesma universidade. Nunca tantas associações e instituições culturais se reuniram em tão grande número, a fim de organizarem um evento literário, com tempo e recursos para uma celebração de jus.

Aqui falaremos apenas da participação dos Estudos Lusófonos da Universidade de Montreal e do Instituto Camões neste dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor e da significativa presença de Lídia Jorge, uma das figuras emblemáticas da literatura portuguesa contemporânea e europeia.

As boas-vindas foram dadas pela directora da Biblioteca, Nicole Tremblay, que realçou a importância do acontecimento e a pujante organização colectiva e o dinamismo do professor de Catalão. O animador deste dia, um americano de Chicago, David Homel apresentou a Lídia Jorge que leria em Português algumas linhas do seu Contrato Sentimental. Com efeito, estavam previstas leituras nas línguas originais dos extractos dos livros dos autores de literaturas, catalã, alemã, italiana, espanhola, portuguesa, etc. Mas, afinal, por desajuste na programação isso só aconteceu com o Português.

Foi lido, de seguida, um extracto em francês do último llivro de Lídia Jorge, Nous combattrons l’ombre, pelo popular actor montrealense Mario Saint-Amand que vemos na imagem. Extracto que muito surpreendeu sobretudo os portugueses presentes sobre o disvórcio visto do lado masculino, quando sabem ser Lídia Jorge uma das escritoras que muito lucidamente se tem batido pela libertação da mulher.

Um momento alto da tarde viria a ser a prestação dos Casteliers de Montreal com uma exibição espectacular, cumprindo assim o ritual catalão.



Casteliers de Montreal
recriam tradição catalã.
Já reunidos à volta da mesa com aperitivos e vinho (o Consulado-Geral de Portugal ofereceu três garrafas de Alvarinho e uma de Vinho do Porto, trazidas pelo chanceler David Pereira), depressa o divino néctar escorregou para os copos e daqui para as gargantas de onde saíram, igualmente, as palavras de retroacção:

- Percebemos tudo o que a Lídia leu, revelavam alguns dos aprendentes de Português que estiveram presentes em grande número - Percebemos melhor a Lídia do que os nossos professores de Português, confessaram. Alguns portugueses presentes na sessão comentaram o trecho lido da e pela autora, parecendo subscrever o contrato sentimental e, com água na boca para mais conhecerem o conteúdo do livro.

Era decididamente o dia de São Jorge e o de Lídia Jorge cuja disponibilidade, presença, capacidade de escuta e de diálogo a todos deslumbrou. Com todos estabeleceu contactos, para todos tinha palavra, para cada um aconselhava o título de uma das suas obras.

Com a vereadora Helen Fotopulos (membro do comitê executivo da Câmara Municipal de Montreal, responsável pela cultura, pelo património, pelo design e pela condição feminina), Lídia Jorge manteve uma conversa mais demorada sobre a condição feminina, um dos pelouros da autarca. Com a autora da presente crónica Lídia Jorge abordou necessariamente aspectos da terra Natal de ambas, onde os burros de ferro, a estupeta de atum, os griséus e as alcagoitas tiveram avondo. Com a ex-autarca, autora e actriz Isabel dos Santos falou sobre questões identitárias. Com Teresa Pinto, a professora do pelo sonho é que vamos, como Luís Aguilar, a apresentou, emergiram os caminhos pouco frequentados do ensino motivador da leitura viva e sensível.

A conversa com os compatriotas imigrados neste país da América do Norte, trouxe à tona memórias e com elas alguns mitos identitários cientes de que o fantasma de nós mesmos somos nós. Mas o que viemos a ler depois, foi o que a Lídia deixou contratuado: Em Portugal, desde o final do século XVI que se avolumava a ideia messiânica do viajante salvador. Para nos salvar de apuros, sempre vinha a caminho o nosso Godot antes de o ser, aquele que abalava de longe, embrulhado num manto de transcendência para nos dar de mão beijada o que não éramos capazes de encontrar por nós próprios. Tendo-nos recebido com esse mito às costas, a Europa Comunitária acabou por ser o nosso D. Sebastião desincarnado, feito de obrigações, normas, regulamentos, relatórios, datas...

O livro Nada da autora catalã Carmen Laforet, uma das referências maiores de Lídia Jorge, foi com certeza o tema de conversa com o professor catalão Èric Viladrich Castellanas.

Pena foi que a troca de livros (bookcrossing) tivesse sido feita por um número restrito de participantes e ainda assim de forma anárquica. Muitos foram os que apareceram, como combinado, com o seu livro para partilhar com outros participantes, de acordo com a tradição. Ainda pudemos ver a troca dos livros Barnacle Love de Anthony de Sá e Tales from the Tenth Island de Onésimo T. Almeida.

Foi um (en)cont(r)o breve que se prolongará certamente em todos os que privaram com Lídia Jorge, num sonho longo.

Voltar à Página do

Página Patrocinada por

Página Criada
por
Vitália Rodrigues