Presença da Literatura Portuguesa no



Francisco José Viegas

(© Pedro Loureiro. Revista Ler

Um dos poucos divertimentos intelectuais que ainda restam ao que ainda resta de intelectual na humanidade é a leitura de romances policiais.
Entre o número áureo e reduzido das horas felizes que a Vida deixa que eu passe,
conto por do melhor ano aquelas em que a leitura de Conan Doyle ou de Arthur Morrison me pega na consciência ao colo. [...]
Talvez seja para os senhores como que causa de pasmo, não o eu ter estes por meus autores prediletos e de quarto de cama,
mas o eu confessar que assim os tenho.

Fernando Pessoa

De 17 a 26 de setembro de 2010 decorreu o 16o Festival Internacional de Literatura de Montreal, que incluíu encontros literários, mesas-redondas com escritores, happenings, tertúlias, espetáculos, etc.
A literatura portuguesa esteve presente, pela segunda vez consecutiva neste importante festival, integrada nas atividades do Lisez l’Europe, sob a temática, este ano, de Lisez l'Europol – Literatura Policial, a partir dos seguintes livros selecionados:
CLICAR.

Confronto de modos de produção literária entre Francisco José Viegas e Teresa Solana, mediado, sem mácula, por Chrystine Brouillet que pôs em evidência as qualidades dos dois autores.

Eric Viladrich, professor de Estudos Catalães na Universidade de Montreal, Teresa Solana, escritora catalã, Francisco José Viegas, Lise Rebout, uma das grandes dinamizadoras do evento e Luís Aguilar, professor de Estudos Lusófonos da Universidade de Montreal e o organizador, juntamente com o cônsul-geral de Portagal, da presença portuguesa neste certame internacional.

Teresa Solana, Fernando Demée de Brito, cônsul-geral de Portugal em Montreal, Luís Aguilar e Francisco José Viegas.

Francisco Hermosin, da livraria Las Américas, Marina Velasco do Consulado de espanha, Juan Madrid, escritor espanhol convidado e Luís Aguilar.



Cyril Assathiany



Clique na gravura para ver alguns extratos do filme.


Manuel Martins conta a pedido dos organizadores e do escritor a sua rica história de vida cá fora e revela alguns segredos da sua arte, a gastronomia.


Uma sala cheia, para uma tertúlia inesquecível.


Francisco José Viegas com José Alexandre da Gazeta das Caldas. Clique para ler a reportagem.

A participação portuguesa foi assinalada com a presença do escritor Francisco José Viegas, tendo este autor participado nas atividades que a seguir se descrevem:

Mesa-redonda sobre a temática do policial europeu que reuniu, no dia 18 de setembro às 13h30, na Maison des écrivains todos os autores convidados: Massimo Carlotto, Juan Madrid, Teresa Solana e Francisco José Viegas. O debate centrou-se, essencialmente, no modo de produção literária e nos motivos ou na ausência de motivos para a produção de literatura policial, com os testemunhos de Francisco José Viegas e Teresa Solana. Juan Madrid e Massimo Carlotto, optaram por falar da literatura militante e a globalização e seus malefícios. - Escrevo porque sou preguiçoso, porque tenho insónias e


Foto de Família, com a Maison des écrivains como pano de fundo.

porque quero saber como termina cada romance que escrevo, revela tão simplesmente Francisco José Viegas. De todos os escritores ficámos com a ideia que o facto de escreverem romances policiais é um pretexto para dizerem muito mais da vida humana que rodeia a trama de um crime. Por outro lado, como o considera Francisco José Viegas, o policial, hoje, é um género admitido no ‘concerto das literaturas’, com muitos leitores e com uma qualidade literária inquestionável. Já desapareceram muitos dos preconceitos sociais e literários contra a literatura policial”, pelo que a citação de Fernando Pessoa que encima esta crónica parece já não não corresponder à situação existente na altura em que viveu o genial poeta dos heterónimos. Ainda que tenha confessado que não escreve policiais para fazer Sociologia, a propósito dos crimes que resultam do rio que tudo arrasta que se diz ser violento, mas cujas margens que o comprimem ninguém as considera violentas, como pretendia Bertold Brecht, Francisco José Viegas fala do seu interesse pelas dinâmicas das personagens que cria apertadas pelas margens (contextos) que os provocam. E vai mais longe quando diz que lhe interessa o seu país e a solidão portuguesa, bem presentes nos seus livros. Diriamos que a pretexto da trama policial, Francisco José Viegas denuncia uma aptência para o enquadramento psicossociológico das suas personagens. E como nada mais prático do que uma boa teoria, Francisco José Viegas transfere ou projeta nos seus livros várias vias para chegar aos outros. São muitas linhas que se percorrem nos seus livros que contam a passagem dos portugueses por África (Mar em Casablanca) e a vida dos portugueses fora de Portugal. Já prometeu um ou dois crimes para a América do Norte. Dos portugueses no Brasil fala no seu Longe de Manaus. De uma forma ou de outra, neste ou naquele espaço geográfico, Francisco José Viegas projeta nas linhas que escreve as suas tensões, inimizades, cumplicidades, passados remotos, heranças culturais, memórias da juventude, etc..

2. O Rali Literário, Nas Peugadas da EuroPol, realizou-se no domingo, dia 19 de setembro, das 12h30 às 17.00 horas, mobilizando uma trintena de participantes que percorreu as ruas da cidade, tendo iniciado o percurso no restaurante Chez le portugais, com Francisco José Viegas e terminado na Cinémathèque québécoise. Pelo meio ficou o encontro com Juan Madrid na Libraria Las Américas, Teresa Solana nas Galerie de l’UQAM e uma leitura feita por Lise Rebout de um livro de Jan Costin Wagner que esteve ausente. Aos participantes no percurso foi atribuído o papel de investigadores, tendo sido oferecidos livros da autoria dos autores convidados, aos que levaram o inquérito policial a bom termo. Ver aqui os elementos constantes do dossiê policial: (clicar).

Montreal foi, neste dia, o local do crime, em que quatro autores de romances policiais motivaram várias pesquisas. Que segredo esconderam? O que tentaram encobrir? Foi neste contexto criminal que se convidaram todos os participantes a investigarem também.

Este rali literário Sur les traces d’Europol propos a descoberta, de maneira apaixonada e lúdica, das variadas facetas da literatura policial europeia. O percurso foi feito a pé, totalizando cerca de 3 km, ao longo do qual os participantes se reuniram com os escritores em pequenas tertúlias e contactos com a comunicação social, tomando pelo caminho uns copitos. A animação esteve a cargo do ator Cyril Assathiany. Sobre este rali, diz Francisco José Viegas à Lusa: é útil e muito divertido. A ideia de sair de uma sala, de andar pelas ruas a “inventariar” os pormenores de um romance policial, parece-me ótima. Não pensava encontrá-la no Canadá.

3. Na terça-feira, dia 14 de setembro, às 19h00, no Instituto Goethe, integrado na atividade Ciné-Polar foi exibido o filme de Paixão Costa, O Mistério da Estrada de Sintra. Cerca de cinquenta pessoas encheram a pequena sala-estúdio, na sua esmagadora maioria quebequenses. Apesar da entrada ser livre apenas meia dúzia de luso-descendentes marcaram presença. De resto, a participação de membros da comunidade portuguesa foi quase insignificante, como de resto é tradição neste tipo de atividades voltadas para a internacionalização da cultura portuguesa, através da difusão de valores culturais portugueses junto das várias comunidades estrangeiras de Montreal.

Lise Rebout apresenta o Ciclo de Cinema Policial, no dia da exibição do filme português de Paixão Costa, O Mistério da Estrada de Sintra, baseado na obra homónima de Eça de Queirós.

Uma Tertúlia Portuguesa
Com Certeza

No dia 20 de setembro, à margem do Festival Internacional de Literatura, realizou-se no restaurante Le Vintage um encontro informal-petiscada com Francisco José Viegas que, afinal, se transformou num encontro informal-jantarada, à portuguesa por obra e graça do castiço chefe Manuel Martins. O tema inicial proposto, Histórias de Vida de Portugueses Cá Fora, rapidamente se alargou e interdisciplinarizou e de tudo um pouco se falou. Por apenas $20 dólares, o chefe Martins quis mostrar porque razão o é e dos melhores. Acedeu à proposta do escritor de cozinhar um arroz de bacalhau e com ele discutiu à desgarrada sobre o rol de receitas existentes. A discussão à volta dos vários pratos e petiscos servidos alternou com muitas outras sobre histórias e opções de vida. Relatos de viagens, a conversão ao judaísmo, os livros escritos pelo autor e os seus inspetores, o futebol e o confronto Benfica desenvolvido pelo Manuel Martins que jogava em casa)


Francisco José Viegas anuncia um crime para o Canadá e ou EUA.


Francisco José Viegas ladeado por Vitália de Aguilar e Luís Aguilar, os dois organizadores da tertúlia.

 

e o Porto pelo Francisco José Viegas, etc. Para trás tinha ficado o repasto servido pelo Manel: sardinhas marinadas, uma açorda espetacular e, claro, o prato forte: o arroz de fiel amigo e, sobretudo, uma açorda-espetáculo . E amigos foram muitos os que fez o escritor, na sua curta passagem por Montreal, metrópole de que gostou muito, como viria a dizer depois: Montreal tem um ambiente que os portugueses de Portugal desconhecem. Aliás, os portugueses de Portugal desconhecem as suas comunidades espalhadas pelo mundo. A mim interessam-me muito.

Eis uma autêntica receita de Arroz de Bacalhau que aparece no meio de mortes, crimes e polícias:

(...) Jaime Ramos tinha terminado de fazer em lascas o bacalhau apenas escaldado e arrefecido de seguida no parapeito da janela. A água onde fervera durante três minutos o bacalhau fora acrescentada ao refogado de cebola, alhos, tomate, meio pimento verde e meio pimento vermelho. Quando chegou a hora de acrescentar o arroz ao caldo, juntamente com o bacalhau desfeito em lascas, procurou o resto dos pimentos, um molho de salsa, duas malaguetas douradas, uma folha de louro – e olhou para o tacho com melancolia, tapando-o.

Leia outras notícias sobre a participação portuguesa no Festival de Literatura de Montreal:

 

Francisco José Viegas, um homem de Encontros:

Vitália de Aguilar e Francisco José Viegas

Francisco José Viegas com Maria Silva do Le Vintage: histórias da Venezuela


Mary Soderstrom e Francisco José Viegas: um encontro de escritores.

Manuel Martins e Francisco José Viegas à desgarrada sobre gastronomia e histórias de vida.


Carlos Rio fala sobre conversão ao Judaísmo com Francisco José Viegas, sob o olhar atento de Carlos Saldanha


Inevitável este encontro de Francisco José Viegas com a chefe Helena Loureiro, proprietária do restaurante Portus Calle

 


Patrocinaram e organizaram a Presença Portuguesa no Festival Internacional de Literatura de Montreal de 2010:

Estudos
Portugueses


Consulado-Geral de Portugal
em Montreal


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