Até que Chegue o Bairro Português há Bancos de Granito no Boulevard, com Frases Literárias e
Azulejos
por

Vitália Rodrigues

Fotos de Manuel Carvalho e de Vitália Rodrigues


(Foto de Manuel Carvalho)


O Parque de Portugal, uma obra prima que foi começada por um amigo meu - o pintor Rui Dias, que projectou e desenhou os azulejos e a fonte. Infelizmente já não faz parte dos vivos, mas deixou uma amiga que falou dele num e-mail ao professor Luis Aguilar. Provavelmente, ninguém se lembrou disso, ou engano-me?

Adelaide Vaz

O malogrado artista pintor Rui Dias, não teve qualquer implicação directa no arranjo do Parque de Portugal. Ele apenas criou, a nosso pedido, os azulejos que decoram o mobiliário urbano e pelo que foi pago em consequência. O fontanário foi concebido pelo arquitecto paisagista Carlos Martinez, como todo o conjunto arquitectural e paisagístico, segundo elementos característicos que lhe fornecemos para orientação, enriquecidos
e fortalecidos por diversos encontros de trabalho que realizamos, alguns deles com a presença desse grande homem que é Pierre Bourque.

Raul Mesquita

Fui solicitado a integrar este projecto na sequência de um pedido de colaboração endereçado ao Instituto Camões, à Coordenadora do Gabinete de Apoio Pedagógico da Direcção de Serviços de Coordenação do Ensino do Português no Estrangeiro, Dra. Fernanda Barrocas, que passou para mim a missão de participar no projecto, em nome daquela instituição responsável pelo ensino, promoção e difusão da Língua Portuguesa no exterior. Estava longe de imaginar o trabalho que iria ter e que ultrapassou largamente o pedido inicial de ajudar a escolher frases para os bancos. Confesso hoje, que valeu a pena. Foram horas de discussão sobre critérios de difusão da ideia pelos media, de tempo a responder, de procura do contacto exacto em que cada frase havia sido produzida, discussões sobre quotas de autores açorianos, etc. Hoje orgulho-me de ver, ao contrário do que é habitual, a assinatura portuguesa traduzir-se na divulgação de alguns dos maiores nomes da nossa literatura e de constatar o orgulho que sentem os portugueses e luso-descendentes pelas marcas literárias que descansam nos bancos ornados de azulejos e a vontade de se apropriarem do conteúdo de cada citação e de cada autor. Gente que antes víamos vibrar com os feitos da selecção portuguesa de futebol, vemos agora ufanos por saberem que os seus melhores escritores permanecen ali mesmo, à mão de semear dos passantes. Orgulhosos por saberem que os quebequenses e membros de outras comunidades étnicas elogiam o projecto.

Luís Aguilar

Esta proposta da comunidade portuguesa é radicalmente inovadora e parece estar já a servir de exemplo para outras propostas de comunidades culturais. Do ponto de vista estético, são obras que podiam estar em qualquer parte do mundo, inclusivamente em Portugal, exactamente com as mesmas características estéticas. Revejo-me como português nestes bancos tal como me revejo na obra dos criadores [portugueses] actuais, numa Paula Rego, Júlio Pomar e outros.

Luís de Moura Sobral

Estou encantada com o resultado: este é um dos poucos projectos que realmente representa o que nós Portugueses somos, sem ser folclórico. Tem a nossa cultura, as nossas artes.

A ideia é, de facto, muito interessante. Bancos de azulejos literários portugueses de Montreal... Boa malha!!! É uma ideia bem inovadora. Certamente que existirão bancos com outro tipo de iconografias, mas bancos literários com azulejos de raiz portuguesa é, de facto, uma ideia muito bonita e, simultaneamente, surpreendente no espaço urbano. Será, certamente, inspiradora de outros espaços para outros observadores presenciais ou observadores a distância e online... Mãos à arte online para inspirar outros!!!
Valerá a pena, então, e em continuidade ao que atrás fica aludido, fazeres um diaporama (e mesmo mini-vídeos a colocar no youtube) sobre os bancos de azulejos literários portugueses de Montreal... e oferendares no teu site www.teiaportuguesa.com... ou com ligação com o teu site...
Creio que isso permitirá que as pessoas, sobretudo as de fora de Montreal, entendam e sintam melhor essa dinâmica paisagística, artística e funcional dos bancos. Ou seja, dos bancos enquanto objectos plásticos, mas também o modo como são usados, e também como os transeuntes os olham, os lêem, os tocam...Espero que faças também outros artigos ligados aos bancos e a esse espaço urbanístico de Montreal, um autêntico enclave cénico do maior interesse, com o seu jardim florido e o quiosque, as casas vitorianas onde habitam ainda portugueses e as transformaram com a cor e as hortas próprias e as azulejarias de santinhos e poesias populares de avisos e alusões tipo "se vieres por bem..." É muito interessante essa concentração comunitária, hoje em dispersão para Laval e outros lugares da periferia montrealense, mas mantendo os traços identitários portugueses bem distintos de outros aí pela St. Laurent.É muito surpreendente a presença desses bancos literários de azulejos. Afinal, outra arte e literatura se instala em Montreal, bem para além da arte popular mimetizadora, necessariamente esta mais próxima de boa parte da população portuguesa de Montreal. O espaço veio, assim, a ser apropriado e dito de outro modo, com erudição e simplicidade, quase de forma despojada, mas mantendo a complexidade dos elementos identitários porque uma escolha e criação refinadíssima exprime o sentir identitário com que se revêem os portugueses de qualquer espaço. Pela minha parte, só tenho que agradecer calorosamente, aos criadores e aos decisores do projecto dos bancos de azulejos literários portugueses de Montreal, o magnífico trabalho artístico realizado nesse enclave cénico da rue St Laurent e periferias... PARABÉNS!

Gostei desta divulgação ao redor da Revolução dos cravos e da contribuição literária no espaço urbano do Boulevard Saint-Laurent. Mesmo se, do meu ponto de vista, a “inauguração” dos “bancos portugueses” tem pouco para nos orgulhar – no sentido dos rastros que deixaremos depois de nossa longa e longínqua presença no “Village portugais” ao longo das quase últimas seis décadas - os nossos artistas conseguiram transmitir através do seu trabalho e da nossa herança literária, da qual eles se inspiraram, muito daquilo que somos: aventureiros; sonhadores; leais e trabalhadores.

Duarte Miranda

Merci, Vitalia, de m'avoir procurer le plaisir de lire ton bel article, sur cet evenement que j'ai malheureusement manqué. Un docte article, elogieux dans son ensemble, mais qui ne manque pas de decocher quelques flèches a certains portugais et d'identifier quelques failles dans la ceremonie. Le rapprochement que tu fais entre les Capitaines d'avril et Isabel dos Santos laissent deviner le defi que representait cette réalisation, que j'ai hâte de voir de mes yeux vus de retour a Montréal.

Renald Bujold

Gostei de saber de tal iniciativa lusa. Já que em Portugal é so badamecos, incapazes de fazer mais do que se deliciarem a beber imperiais e queixar- se da crise, como se deles não houvesse quaisquer responsabilidades, haja alguém que, mesmo além-fronteiras, faça algo que possa ser motivo de orgulho luso.

Benjamin Silva

Em relação aos azulejos gosto muito dos: D.Dinis; Padre António Vieira; Bocage e Fernado Pessoa. Os de: Gil Vicente; Antero de Quental; Miguel Torga e António Lobo Antunes não são bem a minha praia...os restantes eu diria que são convencionais, mas estou a ver "ao longe", ou seja, para apreciar melhor só vendo a aplicação nos bancos e nas fotos não o consigo fazer muito bem, diria mesmo talvez...sentar-me neles! Se tivesse que escolher um artista plástico, seria o Joe Lima - dá-lhe os parabéns por mim.

João Aguilar


Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo...

Fernando Pessoa.

Queira-se ou não, a instalação de doze bancos, como aquele em que me abanco, tendo a meu lado a frase de Bocage que pode iluminar esta crónica arcádica (Fado amigo não há nem fado escuro: Fados são as paixões, são as vontades), constitui, em si mesma, uma importante e inovadora intervenção no espaço urbano de Montreal. E, assim, pouco a pouco, se vão gravando memórias, porque estas, como diz Agustina Bessa-Luís, procriam como se fossem pessoas vivas.

Antes de escrever seja o que for, gostaria de citar, longamente a opinião de um ilustre visitante a Montreal, Alexandre Nobre Pais, responsável do Departamento de Inventário do Museu Nacional do Azulejo em Lisboa e que, na sua passagem por esta metrópole, escreveu:

Gostei muito de Montreal, é de facto uma cidade multicultural, fervilhante de energia, mas que, ainda assim, mantêm uma série de traços das raízes dos vários povos que a constituem. Devo dizer que apreciei particularmente o modo como a comunidade portuguesa soube escolher o azulejo como elemento identitário do “seu território”, a Rue de Saint Laurent. Penso que o conceito – a integração dos bancos na paisagem, associando-lhes a poesia e os revestimentos cerâmicos - é muito conseguido e traduz, de facto, o nosso perfil colectivo, a um tempo uma presença discreta, mas cuja permanência é sempre confortável. Os bancos que observei pareceram-me muito bem conseguidos: a relação entre os poemas e os temas tratados na azulejaria que surge integrada nos mesmos bancos, sintetiza a própria essência da criação do azulejo. Peças criadas expressamente para um local, o qual enriquecem de significados e que, uma vez removidos, descontextualizados, empobrecem, permanecendo deles somente o sentido decorativo.

No quadro das actividades que desenvolvemos na empresa Amarrage sans frontières, tivemos a oportunidade de testar o impacto das novas assinaturas portuguesas no Boulevard Saint Laurent. Tivemos, igualmente, a oportunidade de recolher opiniões emitidas a partir da nossa reportagem sobre este mesmo assunto. Umas recordando intervenções anteriores, outras felicitando a iniciativa, algumas contra, umas do estilo "não vi, mas não gostei" e bastantes a sugerirem outras intervenções. Todas, no entanto, podem servir para o desenvolvimento das assinaturas portuguesas no boulevard ou se preferirem, para a continuação da criação de um Bairro Português. E, porque temos todo o interesse no futuro, já que será nele que iremos ficar o resto das nossas vidas, há que aproveitar a maré e projectar novas assinaturas portuguesas para o Bairro Português.

Os dois grupos que animámos ficaram surpreendidos pela inovadora ideia de assinalar com frases literárias ilustradas com azulejos, a presença de portugueses ao longo de mais de cinquenta anos em Montreal e as impressões são excelentes, mas não isentas de críticas de que daremos conta nesta reportagem. Daremos igualmente, conta das reacções de várias pessoas que nos escreveram e que mais não evidenciam o que diz o nosso Nobel, na sua Jangada de Pedra: ... cada um de nós vê o mundo com os olhos que tem, e os olhos vêem o que querem, os olhos fazem a diversidade do mundo e fabricam as maravilhas, ainda que sejam de pedra, e altas proas, ainda que sejam de ilusão.

Começam, as nossas "cobaias" por referir ser muito pouca a simbologia (que, no fim, se resume ao Parque de Portugal e aos bancos) para assinalar uma forte presença comunitária. Ainda mais escassa a simbologia é, quando se fala em Bairro Português, sobretudo numa altura em que os lusitanos começam a zarpar daqui. Pensamos ser mais correcto falar-se de assinaturas portuguesas que assinalam a forte contribuição lusa ao longo de mais de cinquenta anos, para a construção e renovação de uma parte de uma das artérias principais de Montreal. O reconhecimento por parte da Câmara da existência de um Bairro Português, a par do italiano e do chinês, é tardio e foi preciso ter havido uma vereadora portuguesa no município para que tal milagre se operasse. Antes, várias personagens, de mãos nos bolsos, apareceram a prometer um Bairro Português, geralmente, perto da abertura da caça ao voto, mas a esquecerem a promessa por cumprir, sempre com os parolos enganados a liberalmente votarem, seguindo a cenoura do reconhecimento do afamado bairro.

Aliás, a este propósito, Manuel Carvalho, na mesma linha, refere-nos que continua a existir uma zona nebulosa no que respeita ao Bairro Português. O que tivemos foi a inauguração da assinatura dos bancos. Será que irá ser completada? Com os estandartes e os quiosques? Entretanto, teremos mais uma marca, uma bela marca, mas ainda não será o Bairro. Um Bairro aberto, sem fronteiras, como a Isabel sonhou. Mas em todo o caso um Bairro. Até lá, o Bairro Português continuará a ser um espaço afectivo que cresceu à beira-Main.

Por seu turno, o pastor Marques da Silva comenta: Na verdade, já era tempo de muita espera que o "Bairro Português" tivesse nota condigna. Merece mais; e esperemos que os "bancos" não venham a ser "símbolos" de que, se "alguém espera para alcançar, sente-se, e sonhe até que chegue"...

Nas várias críticas e sugestões que conseguimos registar destaca-se o facto dos bancos estarem, por um lado, ou muito distantes ou muito perto uns dos outros e, por outro, de estarem colocados dos dois lados da avenida, o que dificulta a tarefa de seguir o percurso literário dos autores, ideia central do projecto e que, com esta desregulada colocação se desvirtua. Sugere-se, ainda, algo que anuncie que há bancos para ler: uma placa no início, um estadarte...

O banco situado em frente à agência funerária leva o Miguel Torga de caixão à cova, comentaram alguns, já que, pela cor e pela forma, e aí colocado, o banco mais parece um túmulo, onde o morto se acomoda mal. Assim nem a agência agradece, graceja alguém. Há mesmo quem tivesse sugerido que esse banco não foi posto ali por acaso insinuando pedido expresso da Funerária (!).

A ideia de aliar azulejos e literatura é excelente, mas o granito poderia ter sido de outra cor, pois fica muito parecido ao que se vê nos cemitérios, insiste mais um. Os azulejos podiam aligeirar a coisa, mas colocados da forma de que estão são de difícil visibilidade.

Sobre a escolha das frases por parte dos frasistas (grupo constituído por Caroline Soulié, Joaquim Eusébio, Isabel Santos, Luís Aguilar e Tina Santos) a generalidade das pessoas considera acertada a escolha dos autores, representativos, em cada século, das várias correntes, estilos literários e sua relevância, lamentado só haver uma mulher e Almeida Garrett ter sido preferido em função de Antero de Quental. É realçado, igualmente, o facto das frases serem de simples compreensão e de forte impacto, à natural excepção dos clássicos mais antigos. Para isto muito contribuíram as várias consultas junto dos públicos mais diversificados. No Boletim dos Frasistas se dá conta da forma como todo o processo de selecção das frases decorreu:

A qualidade das traduções é realçada por uns, pelo cuidado de tratamento quebequense do Francês, mas criticada por muitos. Porque razão se adultera a frase de Saramago: Hoje, uma língua que não se defende, morre, traduzida Aujourd’hui, une langue qu'on ne défend pas est condamnée à morrir. Não seria mais fiel à escrita afirmativa e contundente de Saramago a tradução seguinte: Aujourd’hui, une langue qui ne se défend pas, meurt.


Quem queira encontrar uma relação entre a frase, o autor e os motivos dos azulejos, perde-se na diversidade das criações. Se extremamente directas no caso do Carlos Calado, cujos trabalhos apresentam a imagem dos escritores e às vezes frases, já os símbolos trabalhados por Miguel Rebelo, salvo para quem ligue o nome de Torga à urze, são de difícil associação. Dificilmente se compreende, igualmente, a imagem muito semelhante ou que faz lembrar os símbolos Yin e Yang relativos ao escritor António Lobo Antunes. Quanto às simbologias de Joe Lima para os escritores D. Dinis, Padre António Vieira e Fernando Pessoa são elas, na opinião dos nossos interlocutores, ilustrativas das respectivas citações. Joseph Branco retrata bem a citação do poeta Antero de Quental, para muitos a melhor ilustração de todos os bancos. Mais dificil será compreender os azuleos de Gil Vicente e de Bocage, mas as explicações dadas pelo artista sobre as suas criações no Cahier-souvenir publicado e distribuído pela Câmara de Montreal, fornecem-nos elementos importantes para a decifração dos sentidos e formas.

Demasiado discretos os bancos passam despercebidos, diz-nos uma jovem lusa, que nos revela ter encontrado melhor num outro projecto anterior. E fornece-nos uma foto exemplar. Ao leitor propomos descobrir as diferenças e à jovem, sugerimos que melhor perceba o que é um plágio e que distinga erro ortográfico de gralha. Erro ortográfico é o que dão certos meninos que até escrevem nos jornais e gralha, como nos recorda o saudoso Prado Coelho, é um pássaro tresloucado que pousa num texto. De resto é notável que em todos os bancos se registe apenas uma gralha. Facilmente se compreende que quem, de berbequim na mão, teve a estucha de pôr letra a letra nos bancos as frases que correctamente os frasistas lhe enviaram (estes também tiveram o seu fardo) está exposto à gralha. Aparece escrito num dos bancos Libedade em vez de Liberdade. O que é, a nosso ver, criticável é o facto de a Câmara de Montreal, sobejamente alertada para o facto, não se ter dignado corrigir ainda, como lhe compete, a gralha.

Sylvio Martins questiona-nos sobre a razão pela qual referimos na nossa reportagem o 25 de Abril, já que falar nessa data, não dignifica em nada o evento que foi celebrado em Montreal. E continua: Estávamos no mesmo parque, durante todos os discursos nunca falaram do 25 de Abril nem da data comemorativo que foi o 35º aniversário do 25 de Abril. A única referência foi o cravo no banco… e nem explicaram a significância (sic.) deste gesto aos presentes. Ouvimos, com certeza, coisas diferentes, mesmo a Inês Faro que fez a reportagem para o jornal de que Sylvio é o chefe de redacção, se refere à Revolução dos Cravos. Que o Sylvio e os Velhos do Restelo (alguns pouco mais têm do que vinte e cinco anos) evocados por Isabel Santos, no seu discurso preferissem o 13 de Maio (já agora o 28 do mesmo mês) até conseguimos entender, mas conseguir negar o que toda a gente ouviu, leu e escreveu parece-nos excessivo.

E terminamos o anedotário (uff!) com a pérola das pérolas: a ligação do singelo projecto dos bancos a esquemas de corrupção. Exportamos também para esta metrópole o Freeport?
Eis os indícios de corrupção apontados pelos genuínos fazedores de escândalos: o Banque National teria subsidiado às escondidas os bancos, a troco de publicidade induzida ou subliminar! Eis a prova cabal do acto criminoso de corrupção:
a similitude do emblema do banco canadiano com a forma dos bancos de pedra, palavras e azulejos.


Saliente-se, por fim, a ênfase que os membros do European Book Club de Montreal conferiram às palavras portuguesas inscritas nos bancos espalhados pela rua Saint Laurent e propuseram uma visita guiada no âmbito do Festival International de Littérature, que decorre de 19 a 25 de Setembro e onde Portugal se faz representar pela primeira vez.

É de referir ainda o projecto Renaissance concebido por Alberto Feio, que consiste na produção de um documento audio-visual, onde se fala das 12 frases e dos respectivos autores com apontamentos de reportagem relativos às várias criações de azulejos.

Bom futuro parecem ter os bancos de pedra, de palavras e azulejos.

Promenades littéraires portugaises
Marcher au long du Boulevard Saint Laurent comme dans les pages des livres des grands auteurs de la littérature portugaise du XIVe siècle jusqu'à aujourd'hui.

 

P.S.:

Como toda a gente que me conhece sabe muito bem, não pretendo ter quaisquer visibilidades nesta comunidade ou nutrir guerritas de alecrim e manjerona protagonizadas por galitos de capoeira, nem alinhar nesses pensatempos lusitanos de disparar nos próprios pés. Estando fora do meu país não me apetece viver aqui o que lá acho mau. Faço nesta paróquia aquilo que me vai dando na gana, com entusiasmo, mas distanciada, descomprometida e de forma anónima. Mas para quem, convenientemente, diz desconhecer as realizações de interesse comunitário de quem escreve este texto esclareço que me entreguei de corpo e alma a dois projectos jornalísticos durante anos a fio, o LusoPresse e a LusoMontreal, para já não falar dos inúmeros artigos que também escrevi para A Voz de Portugal e a colaboração regular que dei à emissão Portugal Magazine. Ensinei em duas escolas comunitárias durante quase uma década. Divulgo e promovo, desde o início do século, junto das comunidades anglófonas e francófonas, a cultura portuguesa, através da actividade que desenvolvo na empresa Amarrages sans frontière e no Centre d'Histoire de Montréal. Traduzo regularmente textos do português para francês e inglês e vice-versa e sou tradutora para língua portuguesa das obras de um dos escritores quebequenses de maior nomeada, Sergio Kokis. Para além disso, colaboro em muitos projectos universitários sobre língua e cultra portuguesas, ocupando, actualmente, o posto de auxilliaire d'enseignement na Universidade de Montreal. Participei com muito gosto, ainda que anonimamente, no projecto dos Bancos de Pedra e de Palavras que aqui se descreve e foi com orgulho redobrado que participei como animadora no projecto Renaissance de Alberto Feio e nas Promenades littéraires, integradas no Festival Internacional de Literatura de Montreal. E, finalmente, fiz esta singela crónica sobre os bancos, em plena liberdade de opinião e distanciada das gangues de bairro organizadas, que tudo avista apenas do seu umbigo, com uma visão limitada das coisas e do mundo e quantas vezes sem a mínima decência. Até que chegue o bairro português, os portugueses vão zarpando e os gauleses vão chegando ao boulevard.

Que registem (com agrado, claro) que continuarei o elogio entusiasta de bancos e frases e queiram fazer o obséquio de registar também que nisso estou muito bem acompanhada. Porque nunca é tarde para ver, espero que aqueles que agora se enervam (comportamento típico lusitano que apedreja tudo o que mexe) com esta intervenção no espaço urbano de Montreal, alcancem o significado destas assinaturas portuguesas até que chegue o bairro português.