José de Barros
na Universidade de Montreal:

Da Formação à Fundação de Portugal
Por
Vitália Rodrigues

Da Formação à Fundação de Portugal, assim se pode resumir a comunicação do Professor José de Barros, director das Escolas Portuguesas de Santa Cruz e Lusitana de Montreal , distinto professor de Matemática e, sobretudo, grande apaixonado pelas grandes temáticas da História de uma das primeiras nações europeias, com uma identidade nacional e fixação de fronteiras invejável (Olivença é uma excepção e uma vergonha). Para quem conhece, como eu, o professor José de Barros não poderia deixar de surpreender-se com a exaltação, o entusiasmo e o brilhantismo expositivo que imprimiu na sua comunicação e que contrasta com o seu temperamento calmo e reservado. Contagiou os estudantes de todas as nacionalidades que frequentam a cadeira de Introduction à la culture portugaise, ministrada pelo Dr. Luís Aguilar e na qual se enquadrou esta iniciativa.

Nem se notou quaisquer dificuldades na comunicação como houvera pré-anunciado José de Barros: Comunicar estes factos da nossa História em Francês? É que estou habituado a pensar e a falar em Português sobre questões da nossa História. É tarefa árdua... fazê-lo na língua de Molière.

É de notar a estupefacção que nestas aulas os estudantes mostram face à grandiosidade da nossa História e a magnanimidade da nossa língua. Espanto que se estende aos estudantes luso-canadianos dando razão a Alexandre Heculano: O país da Europa mais desconhecido entre nós, portugueses, é Portugal.

 

Antes da dita fundação de Portugal, passaram pela Península Fenícios, Iberos, Celtas, Celtiberos, Lusitanos, Romanos, Suevos, Godos, Visigodos, Mouros e até Vândalos que justamente originam a palavra que hoje traduz a sua passagem. - As palavras dizem muito, lembra o Professor Barros que adianta: - Mas os números empurram-nas para a precisão.
E com palavras e números foi o orador, tal um contador de histórias, lembrando os feitos de grandes homens: Alexandre, Júlio César, Aníbal... mas também o Senhor dos Montes Hermínios, que só assassinado e traído, cessou a série de derrotas que infligiu aos Romanos. A sua graça: Viriato, que foi também marca de lápis que muitos rabiscos

nos permitiu fazer num caderno onde a história se aprendia em tempos que felizmente já lá vão, como uma religião no bico do ponteiro ameaçador, do professor primário do tempo do fascismo, que na altura justificava mais do que salvar Portugal, salvarmo-nos de Portugal, como referia Jorge de Sena no Brasil.

Perceber como o passado de um povo explica o presente dos comportamentos contemporâneos e permitem perceber o trajecto de uma cultura foi o aspecto que os estudantes de Língua e Culturas Lusófonas mais realçaram, desta importante comunicação do Professor Barros. Disto pudemos aperceber-nos na altura em que bebíamos um excelente vinho do Porto que, protagonizou a segunda parte desta sessão. Vinho do Porto, apresentado pela estudante
Anne-Marie Chayer, sob o olhar atento de Vítor Poupada, que teve a oportunidade de pôr alguns pontos nos ii, sobretudo no que se refere à guerra que opôs a SAQ aos vinhos portugueses. - Essa guerra acabou, assegurou o Delegado do ICEP em Montreal, que foi ainda questionado pelos curiosos estudantes sobre a veracidade da lenda dos portos Newman's da Terra Nova ou do nobre inglês, Duque de Clarence, que preferiu afogar-se num barril de Vinho da Madeira do que suportar a desonra na guerra das Duas Rosas em Inglaterra.E, finalmente, depois de três horas de aula, algumas pessoas dirigiram-se para o Restaurante-tasca português Mavi, perto da Universidade para "tertuliar" sobre História, frango assado e bom vinho português.