Reportagem e fotos de Vitália Rodrigues


Luís Aguilar: Já imaginaram o que foi na época, há mais de cem ano,s a mudança de Ph, para f? Farmácia em vez de pharmacia. Passava-se, então da Orthographia para a Ortografia, com mais ou menos as mesmas resistências e debates do que agora.

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DOCUMENTOS DE APOIO IMPORTANTES
 

Vídeo com entrevista de Vitália Rodrigues a Luís Aguilar, sobre o AO, para o Montreal Magazine, com realização de Alberto Feio.

Diaporama: A Evolução Ortográfica da Língua portuguesa: um Século de (Des)Acordos por Luís Aguilar.

Entrevista de Luís Aguilar a Osman Sarmento na Radio Centre-ville, sobre o Acordo Ortográfico.

Texto de apoio: Evolução Ortográfica da Língua portuguesa: um Século de (Des)Acordos por Luís Aguilar.

Texto de Lise Duquet: Ma compréhension de l'accord orthographique de la langue portugaise.



Os Estudos Portugueses e Lusófonos da Universidade de Montreal, em colaboração com o senhor cônsul-geral de Portugal em Montreal, Fernando Demée de Brito, promoveram uma sessão sobre a evolução ortográfica da língua portuguesa, na quarta-feira, dia 2 de junho de 2010, das 18h00 às 20h00, na sala multiusos do Consulado-Geral de Portugal em Montreal, sessão animada por Luís Aguilar, docente do Instituto Camões e professor convidado da Universidade de Montreal e Lise Duquet, finalista do Curso de Língua Portuguesa e Culturas Lusófonas.

Luís Aguilar passou em revista as revisões ortográficas, as tentativas de unificação da escrita, e os acordos e desacordos que desde a instauração da República até aos nossos dias se têm produzido. Por seu turno, Lise Duquet, traçou um olhar estrangeiro sobre a nova ortografia da língua de Camões, estabelecendo um paralelismo com a nova ortografia da língua de Molière, cujo último processo de revisão se iniciou no mesmo ano do processo de revisão da língua portuguesa, em 1990.

Esta sessão de duas horas, a que se seguiu um Porto de honra, oferecido pelo cônsul-geral de Portugal em Montreal começou pelo fim, dando Luís Aguilar, desde logo, a sua opinião sobre o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, para depois se centrar no essencial da questão: as mudanças operadas na ortografia portuguesa ainda que escassas não resolvem os sempiternos problemas que já em 1911, ficaram por resolver e, se é verdade que o acordo não atinge na totalidade o seu objetivo primeiro, o da unificação ortográfica, unifica ainda assim 98,5% das palavras. Sobre as querelas à volta das revisões ortográficas, elas sempre existiram não só em relação à língua portuguesa, mas relativamente a todas as línguas. É sabido: as modificações ortográficas, tocam emocionalmente todas as línguas sempre que ocorrem modificações. De resto, foi isso mesmo que Lise Duquet pôs em evidência: passa-se o mesmo com o Francês, onde as batalhas são, porventura, ainda mais acesas. Só que são resolvidas à francesa, enquanto os lusitanos têm a sua maneira muito própria de resolver os assuntos: à Viriato. Para sustentar a sua opinião sobre as polémicas à volta do acordo, Luís Aguilar citou o escritor angolano Pepetela: estou um bocado farto do acordo. Eu sou contra este acordo, mas sou ainda mais contra os que estão contra, que me parece terem uma reação parecida com a que existiu no século dezanove, relativamente ao francês. É uma reação reacionária. Considerou o docente do Instituto Camões que as dificuldades ou até incorreções linguísticas que ainda prevalecem podem ser corrigidas no futuro, o que aliás sempre sucedeu em quase todas as línguas.

Com efeito, se é verdade que a língua portuguesa é um património, está bem longe de ser uma arca frigorífica ou, muito menos, um fóssil, podia ler-se num slide projetado na parede com a citação de Francisco Álvaro Gomes. Estar contra ou a favor do acordo é algo de extemporâneo, considerou o palestrante, citando desta feita Edwin B. Williams que já em 1938 dizia: Com efeito, a questão ortográfica é um dos capítulos mais atormentados da história linguística portuguesa. Ao contrário do espanhol, que nos fins do século XV encontrou em Nebrija o seu codificador tanto da grafia como da gramática (...), o português manteve até ao princípio do século XX uma grafia tradicional inspirada em etimologias um tanto arbitrárias.

O que importa agora são os resultados positivos que se podem obter a partir do novo AO, com particular importância no domínio da internacionalização do Português e na promoção, difusão e ensino da portuguesa língua que se até aqui esteve baixa e sem louvor, culpa é dos que a mal exercitaram - como diz António Ferreira no século XVI - e não de qualquer revisão, reforma ou acordo ortográfico. O mal provém mais dos que insistem em dizer hades vir do que a supressão do hífen em hás-de (passará a grafar-se hás de). O problema reside mais na utilização abusiva e inútil de anglicismos como -email ou on line ou site ou ainda mais absurdo newsletter e não na permissão da grafia dupla ou na supressão da consoante muda c, em correio eletrónico (ou eletrônico).

Luís Aguilar que utiliza já a nova ortografia no ensino da Língua Portuguesa, de há dois anos para cá, diz não querer lembrar-se dos empecilhos e dificuldades que sentia antes da implementação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, em que tinha de ensinar separadamente aos estudantes que seguiam a norma lusitana, por um lado, e os que seguiam o português do Brasil, por outro lado.

Referiu, ainda, o cariz essencialmente político deste acordo que permitiu já avanços nunca antes realizados.

Talvez não se tenham dado conta, mas este texto foi redigido segundo as normas do novo acordo ortográfico.