Gil Vicente
(1465?-1537?)
O Pai do Teatro Português

Estátua de Gil Vicente em Lisboa
Custódia de Belém
(atribuída a Gil Vicente)

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Em breve Gil Vicente terá uma citação sua num dos bancos do Boulevard Saint Laurent, no que virá a ser o Bairro Português de Montreal:


Quem nam é senhor de si
por que o será de ninguém?
Sede vós senhor de vós
em fazer o que deveis
entam é bem que mandeis.


In Auto dos Físicos


O Monólogo do Vaqueiro, como teria sido representado pelo próprio Gil Vicente, de acordo com a visão do pintor Roque Gameiro.


Ilustração da edição original do Auto da Barca do Inferno

Como citar esta página:

Aguilar, Luís. Gil Vicente. In Teia Portuguesa. [Em Linha].
http://www.teiaportuguesa.com/literaturagilvicente.htm
(
Página consultada em 12 de Fevereiro de 2008).

Texto, selecção de poemas e organização de conteúdos:
Luís Aguilar

 


Nós somos vida das gentes
e morte de nossas vidas;
a tiranos, pacientes,
que a unhas e a dentes
nos tem as almas roídas.
Para que é parouvelar?
Que queira ser pecador
o lavrador;
não tem tempo nem lugar
nem somente d'alimpar
as gotas do seu suor.

Gil Vicente
in Auto da Barca do Purgatório

De Gil Vicente e da complexidade do seu universo de criação literária, sabe-se o essencial: é, indiscutivelmente, o pai do teatro português, comparado a Aristófanes ou a Plauto, cognominado, Shakespeare imaturo; é, sem dúvida, o maior dramaturgo da Renascença na Península Ibérica (os espanhóis referem, igualmente, Juan del Encina e Torres Naharro), cujas 44 obras escritas em 35 anos, a tempo inteiro, 17 em português, 11 em castelhano e 16 bilingues, revelam grande genialidade, intensidade lírica, espírito satírico, propensão para criar alegorias, simbologias e teatralização de linguagens. Menéndez y Pelayo não tem qualquer dúvida: Gil Vicente não tem quem o supere na Europa do seu tempo. O que se sabe com segurança é que no dia 8 de Junho de 1502 representou O Monólogo do Vaqueiro à rainha D. Maria, na altura em que dava à luz o futuro D. João III, como o próprio Gil Vicente refere na didascália do referido auto: que o autor fez ao parto da muito esclarecida Rainha Dona Maria, e nascimento do muito alto e excelente Príncipe Dom João.

De tudo o resto pouco se sabe de exacto, a começar pelas datas e locais de nascimento e morte. Onde nasceu Gil Vicente? Em Guimarães, Coimbra, Lisboa ou mesmo em Barcelos? Em Guimarães, diz António José Saraiva. Mas Guimarães ou Guimarães de Tavares ou da Serra (perto de Mangualde) como defendem estudiosos como José Coelho, Francisco Torrinha, Augusto Pires de Lima, Valentim da Silva e Amândio Marques. Em Guimarães, ponto final, decreta Salazar. Paramos por aqui. Beirão como o quer Valentim da Silva, apoiado no escritor inglês, Aubrey Bell, para quem Gil Vicente trazia a Beira sempre no pensamento. Para Frei Pedro de Poiares, o Mestre Gil nasceu em Barcelos. Morreu em Lisboa, dizem uns, enquanto outros garantem ter sido o Gil Vicente sepultado em Évora. Para além de dramaturgo muitos o consideram ourives e têm a seu favor muitos argumentos e documentos que sustentam as suas teses.

Desconhece-se, igualmente, a sua formação e há mesmo quem ponha em dúvida o seu epíteto de renascentista ou de humanista, como, entre outros, Carolina Michaelis de Vasconcelos.

Também não há a certeza de o escritor ter feito algum curso universitário. Teria andado na Universidade de Coimbra ou fez os seus estudos em Salamanca? Ou teria sido em Paris? Acreditam alguns que Gil Vicente era um autodidacta e que não frequentou quaisquer universidades, facto que lhe proporcionou condições de originalidade na sua estrutura artística, conferindo uma expressão singular, às suas obras e predispondo-o a representar de maneira objectiva, os valores culturais do momento histórico em que viveu.

Ouçamos o próprio Gil Vicente dizer quem é, embora numa biografia fantasista (?) que expõe no Auto da Lusitânia:

Gil Vicente o autor
Me fez seu embaixador,
Mas eu tenho na memoria
Que para tam alta historia
Nasceo mui baixo doutor.

Creio que he da Pederneira
Neto d'um tamborileiro,
Sua mãe era parteira,
E seu pae era albardeiro.

Gil Vicente testemunhou grandes mudanças em Portugal, como as que as viagens de Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral trouxeram e que delas e de outras dá conta nos seus autos, mas também testemunhou a instauração dos tribunais da Inquisição, dos quais, na opinião de muitos, teria sido vítima, por defender os cristãos-novos.

É de primordial importância lembrar que Gil Vicente sempre se manteve fiel aos reis a que servia e foi um devotado cristão, empenhando-se na reconstituição de uma Igreja forte que veiculasse os princípios católicos. Com efeito, a crítica que fazia nos seus autos não era tanto dirigida às instituições, quanto aos humanos que se desviavam dos seus princípios. Sobretudo, os nobres nunca lhe perdoaram as críticas que lhes infligia, sem dó nem piedade e, à boa maneira lusitana, recorreram ao boato para denegri-lo. Com efeito, A Farsa de Inês Pereira, representada pela primeira vez ao rei D. João III, no convento de Tomar em 1523, resulta de um desafio colocado pelos nobres ao genial autor que, fartos de serem ridicularizados nas peças do Mestre Gil, lançaram o boato que Gil Vicente não valia nada e que o que escrevia era plagiado de autores espanhóis. Gil Vicente, sugere-lhes então que lhe seja dado um tema, sobre o qual ele escreveria urna nova peça. O tema apresentado pelos nobres foi o ditado popular, bastante sugestivo: Mais quero asno que me carregue que cavalo que me derrube. É então que o Mestre Gil, considera, na referida peça que o asno que me carregue é Pero Marques, um dos personagens do referido auto, o marido parvo que, apesar de ser ridicularizado por Inês, espera-a, casa-se com ela e sujeita-se aos seus caprichos e traições e o cavalo que me derrube, simboliza a atitude do Escudeiro, preocupado em arranjar uma boa esposa (leia-se um meio rentável), finge, dissimula, engana, criando uma imagem de homem discreto que, depois, se revela um tirano.

Um outro problema que se tem colocado é o das razões que levaram o dramaturgo a utilizar nos seus autos várias línguas e linguagens: a par do português, do castelhano escrevia também em latim, saiaguês, italiano e francês. Razões que tão bem esclarece Salvato Trigo, numa excelente comunicação feita em Toronto, no recuado ano de 1983.

Por fim, uma curiosidade: Gil Vicente aparece como epígrafe da obra Crónica de Uma Morte Anunciada de Gabriel Garcia Marquez, o que põe em evidência o carácter universalista dos autos do Mestre Gil, bem assim o poliglotismo do dramaturgo e a sua propensão para teatralizar linguagens.
La caza de amor
es de altanería:
trabajos de día,
denoche dolor.
Halcón cazador
con garza tan fiera,
peligros espera.
(Comédia de Rubena,
de Gil Vicente; em castelhano, no original)

Esta comédia foi levada a cena pela Companhia de Teatro da Cornucópia, que obviamente, a representou em castelhano, sem que, por isso, o público deixasse de compreender e aplaudir.

Sete obras de Gil Vicente em Português encontram-se em Montreal, como, de resto em todo o mundo, à mão do leitor, graças à Internet e ao esforço do Governo Brasileiro que as disponibiliza integralmente num sítio que criou para divulgação das Literaturas de Língua Portuguesa, o Domínio Público:

Auto da Alma

Auto da Barca do Inferno

Auto da Feira

Auto da Índia

Auto de Mofina Mendes

Farsa ou Auto de Inês Pereira

O Velho da Horta

Auto dos Físicos


Porque os vídeos com extractos de peças de Gil Vicente não abundam na Internet, em gritante contraste com os que ilustram os feitos do Gil Vicente, Clube de Futebol, aqui ficam imagens de o Auto da Índia e Auto do Inferno.


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Vitália Rodrigues