Université de Montréal - Faculté des arts et des sciences -Département de Littératures et de langues modernes
Mineur en langue portugaise et cultures lusophones
PTG 1954-Portugais idiomatique et composition
PTG 1955-Portugais: communications orale et écrite
Professeur invité d'Études portugaises et Docente do Instituto Camões: Luís Aguilar
Textos Uitlitários

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A DISSERTAÇÃO

LEIA, COM ATENÇÃO, O TEXTO INFORMATIVO SEGUINTE, E UTILIZE-O COMO GUIA ORIENTADOR, PARA A ELABORAÇÃO DE UMA PEQUENA DISSERTAÇÃO SOBRE O BEM OU MAL FALAR AS LÍNGUAS ESTRANGEIRAS. INSPIRE-SE NO TEXTO DE EÇA DE QUEIRÓS QUE SE APRESENTA EM ANEXO E OU NA RESPOSTA ELABORADA POR RENALD BUJOLD AO GRANDE ROMANCISTA PORTUGUÊS.

90
minutos

Elaborar uma dissertação é expor um assunto, demonstrar ou rebater a validade de uma tese, defender uma opinião. A partir do momento em que, sobre um assunto ou tema dado ou escolhido, ou mesmo a convencer um receptor, é a dissertação que está presente.
A dissertação pode compor-se das seguintes partes:

  1. Introdução, que deve mencionar o assunto e a indicação clara da defesa que irá ser comprovada. Trata-se de especificar a tese que se vai ajuizar com argumentos e provas.
  2. Desenvolvimento, que compreende a apresentação de argumentos que comprovem a tese, indicados, se possível, em ordem crescente de importância para melhor solicitar a atenção do leitor. Uma boa dissertação a par dos argumentos de defesa de uma ideia ou tese deve apresentar os contra-argumentos ou antítese.
  3. Conclusão, que faz um inventário rápido dos argumentos e reprodução da tese. Trata-se da elaboração da síntese e das consequências possíveis do desenvolvimento da ideia ou tese defendida.

Textos exemplificativos de dissertação:


Meus caros companheiros,

Tomei uma decisão importante: não vou redigir nenhuma dissertação porque não tem valor algum para mim. Sei que essa atitude poderá ser mal interpretada e provocar represálias. Estou certo, porém, que vocês irão compreender-me quando analisarem as minhas razões.

Como sabem, sou péssimo aluno - candidato certo à reprovação. Não será, portanto, a falta desse exercício que irá reprovar-me. Por outro lado, tais subtilezas não se coadunam com o meu tipo de inteligência.

Não me venham dizer que o exercício será útil para a minha formação. Suponhamos que eu faço a dissertação. Que significado terá? Nenhum, pois irei fazer uma redacção que nada representará para mim.
Dirão vocês: “Se não fizer a dissertação, nós seremos prejudicados e, por isso, ajustaremos contas.” Ora, todos sabemos que cada qual deve assumir a responsabilidade dos seus actos. Com duas palavras provo isso ao professor e, portanto, o grupo não será prejudicado.

Em suma, como já estou reprovado, como não vou fazer uso desse conhecimento, como não quero perder tempo com trabalho fora do meu alcance, que, de resto , não será útil para a minha formação, como ninguém ficará prejudicado com tal atitude, não vou escrever a dissertação, que não tem valor algum para mim.


Wladimir Oliveira, Português em Dinâmica de Grupo



EÇA DE QUEIRÓS

In A Correspondência de Fradique Mendes


Um homem só deve falar, com impecável segurança e pureza, a língua da sua terra: - todas as outras as deve falar mal, orgulhosamente mal, com aquele acento chato e falso que denuncia logo o estrangeiro. Na língua verdadeiramente reside a nacionalidade; e quem for possuindo com crescente perfeição os idiomas da Europa vai gradualmente sofrendo uma desnacionalização. Não há já para ele o especial e exclusivo encanto da «fala materna» com as suas influências afectivas, que o envolvem, o isolam das outras raças; e o cosmopolitismo do verbo irremediavelmente lhe dá o cosmopolitismo do carácter. Por isso o poliglota nunca é patriota. Com cada idioma alheio que assimila, introduzem-se-lhe no organismo moral modos alheios de pensar, modos alheios de sentir. O seu patriotismo desaparece, diluído em estrangeirismo. «Rue de Rivoli», «Calle d’Alcalá», «Regent Street», «Willhelm Strasse» - que lhe importa? Todas são ruas, de pedra ou de macadame. Em todas a fala ambiente lhe oferece um elemento natural e congénere onde o seu espírito se move livremente, espontaneamente, sem hesitações, sem atritos. E como pelo verbo, que é o instrumento essencial da fusão humana, se pode fundir com todas – em todas sente e aceita uma pátria.

Por outro lado, o esforço contínuo de um homem para se exprimir, com genuína e exacta propriedade de construção e de acento, em idiomas estranhos – isto é, o esforço para se confundir com gentes estranhas no que elas têm de essencialmente característico, o verbo - apaga nele toda a individualidade nativa. Ao fim de anos esse habilidoso, que chegou a falar absolutamente bem outras línguas além da sua, perdeu toda a originalidade de espírito - porque as suas ideias forçosamente devem ter a natureza incaracterística e neutra adaptadas às línguas mais opostas em carácter e génio. Devem, de facto, ser como aqueles «corpos de pobre» de que tão tristemente fala o povo – «que cabem bem na roupa de toda a gente».

Além disso, o propósito de pronunciar com perfeição línguas estrangeiras constitui uma lamentável sabujice com o estrangeiro. Há aí, diante dele, como o desejo servil de «não sermos nós mesmos», de nos fundirmos nele, no que ele tem de mais seu, de mais próprio, o vocábulo. Ora isto é uma abdicação de dignidade nacional. Não, minha senhora! Falemos nobremente mal, patrioticamente mal, as línguas dos outros! Mesmo porque aos estrangeiros o poliglota só inspira desconfiança, como ser que não tem raízes, nem lar estável – ser que rola através das nacionalidades alheias, sucessivamente se disfarça nelas, e tenta uma instalação de vida em todas porque não é tolerado por nenhuma. Com efeito, se a minha amiga percorrer a «Gazeta dos Tribunais», verá que o perfeito poliglotismo é um instrumento de alta «escroquerie».


DISSERTAÇÃO
O BEM OU MAL FALAR AS LÍNGUAS ESTRANGEIRAS


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NOME______________________________________________________________________________________
DATA_____/_____/_____

© Luís Aguilar (2000). Manual de Comunic-Acção para o Ensino do Português, Língua Estrangeira
ISBN 2-922821 08 0

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