Christian

Simard

Auto-retrato
Voyage Virtuel au Brésil

 

Auto-Retrato
A Lenda do Talibã


Era uma vez um rapaz
que chegou a uma terra quente
Pensou, então, muita gente
que ele não seria capaz
de sobreviver por entre feras
e diabos que lá havia
mas ainda não se sabia
quem era ele deveras

Sempre metido em festas
e com o malafo(1) na mão
conheceu o bom e o mau
e nunca faltaram mulatas
nem pretas que se imaginavam
que da sua feitiçaria
defender-se não poderia.
Enfim, elas nunca ganhavam.

Porque ele já conhecia
dessa terra, os segredos
e ficaram confundidos
os que, com hipocrisia
o tratavam ao ver como
nos candomblés ele cantava
em nagô(2) e em kikongo.
Por isso o respeitava
o morto que ao terreiro
baixava; o procurava
sempre prá saudá-lo primeiro.

Por isso agora todos
o conhecem e ao vê-lo
os mpangues(3) dum grito só
o chamam: - 'Talibã !' ; xodos
que também não faltam, dizem,
'Chegou o louco'; os velhos,
no bar da esquina sentados

comentam 'Tem axé o homem!'

E assim nasceu a lenda
do Talibã vindo do frio.
Se um dia você chegar
a essa terra embruxada
é só dizer: "Meu colega,
do Talibã sou amigo"
e assim pensarão todos
'Com esse tomem cuidado!'


1:bebida, em kikongo
2:nome dado à etnia yorouba, no Brasil
3:irmao, em kikongo


Texto produzido, a partir da proposta de trabalho contida na
Ficha, Auto-retrato