LUSOFONIA: OS NOVOS MUNDOS DO MUNDO
Pesquisa Orientada na Rede
por Luís Aguilar



Resposta à Questão 24

Em que medida se pode pressupor que a língua é o primeiro passo para a consolidação e afirmação do espaço da lusofonia?

Tendo em conta os vários significados que encerra o conceito de Lusofonia que acabámos de referir, podemos, desde logo, afirmar que a língua é o primeiro passo para a consolidação e afirmação do espaço lusófono, sendo o seu denominador comum, capaz de unir e criar afinidades entre os povos. A Língua Portuguesa é o elemento principal, o critério de base, para definir o espaço lusófono no mundo, para consolidá-lo e afirmá-lo como um vínculo histórico e patrimonial comum aos oito países que constituem a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). O espaço lusófono abrange os cinco continentes e, por isso mesmo, está sujeito a ter uma grande diversidade (racial, religiosa, política, de costumes, etc.). Um só elemento une esse espaço: a Língua Portuguesa, língua de oito pátrias.

Mas se a língua portuguesa comum é o primeiro passo para se conceber o espaço lusófono, esse fator de unidade fundamental, a nível mundial, encontra entraves vários, já que, a Língua Portuguesa não tem, na construção da Lusofonia, o mesmo estatuto e importância em todos os países lusófonos. Com efeito, esbarramos com uma realidade incontornável: apenas em Portugal (com 96 % da sua população), no Brasil (com 86 %) e em Angola (60%) o Português é falado pela maioria da sua população, como língua materna.

Quanto aos países africanos lusófonos, o Português, sendo a sua língua oficial, não é na maioria das populações mais do que a sua língua segunda ou língua de ensino. Na Guiné-Bissau, em Cabo Verde, em São Tomé e Príncipe e em Timor falam-se, dominantemente, as várias línguas nacionais e ou os crioulos de base lexical portuguesa. Em Angola e Moçambique a situação linguística é diferente.

Ainda que a Magna Língua Portuguesa seja, para alguns de nós, a língua mais bonita do planeta e que nos orgulhamos de nela nos podermos exprimir, temos consciência de que o Português não tem a mesma popularidade que o Espanhol, o Alemão, o Francês ou mesmo o Italiano, para não falar, evidentemente na hiper-centralização do Inglês. À medida que nos fomos conhecendo mutuamente na cadeira de Lusofonia, impressionamo-nos com o que fomos descobrindo pelos mares tumultuosos da Lusofonia e, no caminho, mudámos a conceção que tínhamos da Língua Portuguesa e dos múltiplos espaços onde ela se fala. Apercebemo-nos que o mundo lusófono não se limita a Portugal e ao Brasil e que, neste país-continente, não se fala brasileiro, como aqui no Quebeque, mesmo pessoas cultas supõem. Sim, porque os mais ignorantes (onde se podem incluir alguns universitários e figuras de proa da cultura quebequense) pensam que, no Brasil, se fala Espanhol. Temos agora uma maior consciência do significativo papel que uma língua pode ter, na união e aproximação dos povos que a falam, apesar das diferenças raciais, religiosas, políticas e étnicas. Apercebemo-nos, nos vários debates em que participámos - onde intervieram indivíduos de vários países lusófonos - das diferenças abissais - no duplo sentido do termo (enorme e misterioso) - que, Portugal tem com cada uma das suas antigas colónias. Do extremo azedume que angolanos e portugueses, atualmente, nutrem entre si, à ternura e afeto que portugueses e timorenses partilham, muitas são as questões problemáticas da Lusofonia, que, neste texto, vamos analisar ainda que, de forma necessariamente sucinta e fatalmente incompleta.