LUSOFONIA: OS NOVOS MUNDOS DO MUNDO
Pesquisa Orientada na Rede
por Luís Aguilar



O que é para mim a Lusofonia?

Uma Alegoria para a Lusofonia
por
Renald Bujold

Estudante de Língua Portuguesa e Culturas Lusófonas da Universidade de Montreal

Porque considero muito importante o tema das raízes, mediterrâneas (pela proximidade do Mar Mediterrâneo, com as influências pré-históricas e históricas - o tipo humano mediterrâneo e as culturas: Fenícia, Grega, Romana, Mourisca, sem esquecer as influências mais ou menos "bárbaras" - Visigodos, Bourbões e outros ), ibéricas e portuguesas que, com a língua, constituem a realidade cultural e linguística a que chamamos Lusofonia. Talvez seja interessante resumir a minha visão pessoal da Lusofonia por uma alegoria inspirada na Natureza.

Nesta perspectiva, a Lusofonia seria uma árvore gigante, ou uma família de árvores, cujos primeiros ramos brotariam, de um contexto mediterrâneo, na parte mais Ocidental da Península Ibérica, mais precisamente, onde hoje se situa Portugal. Aí, nesse solo, formaram-se raízes ancestrais desta Árvore, que ainda hoje continuam a penetrar a terra. Dela emana a seiva que alimenta todo o tronco da Árvore e todos as seus ramos, rebentos e genes, que todos os membros desta família têm em comum. Depois de bem implantada no solo fértil das civilizações, os ventos do Pacífico e do Atlântico se encarregariam de distribuir as sementes pelo vasto mundo, sementes essas que se enraizariam nalguns solos férteis, dando origem -com o tempo e com o transplante de outras variedades culturais e civilizacionais- a outras árvores com identidade própria, mas com mais ou menos semelhanças com a Árvore original (Brasil, Angola, Moçambique...), nas quais ainda corre parte da seiva primitiva e se reconhecem os genes, ou pelo menos alguns segmentos desses genes comuns. Noutros lugares, as árvores-filhas ou os seus ramos transplantados não tiveram o mesmo êxito ou a mesma longevidade porque, ou não encontraram um solo suficientemente fértil ou as condições favoráveis ao seu crescimento ou foram destruídas prematuramente por diversas adversidades.

Outro fenómeno importante e interessante na aventura fantástica da história desta Árvore é o de os seus ramos, que a partir dos anos 60 se cortaram voluntariamente do seu tronco para se incorporarem noutras Árvores-Nações, noutros continentes e que ainda continuam hoje a ser ramos visíveis, com as suas flores típicas, apenas ligeiramente modificadas, mas que, em seu redor, irão originar sementes que se vão enraizando no solo de adopção dos seus pais, criando, assim, novas variedades da família vinda da Árvore inicial. A variedade de cor, de tamanho, de flores e frutos deste novo grupo da família lusófona é quase infinita, tão infinita como infinita é a expressão individual e colectiva do ser humano.

O último fenómeno que me cabe mencionar nesta alegoria é o meu envolvimento pessoal. Facilmente se pode constatar que não sendo eu lusitano, mas estrangeiro, como todos os outros que, como eu, estudam, falam, escrevem e lêem Português, como língua estrangeira, somos um transplante ou um transplantado da Árvore? Colocando a questão de outra maneira: ou me auto-transplantei na Árvore ou deixei-me invadir por um dos seus ramos, cuja seiva me transformou progressivamente e deu origem a novos seres, a novas árvores? Acho que os dois pontos de vista me servem perfeitamente, não sentindo, por isso, a necessidade de optar por uma ou outra perspectiva.

Montréal, 19 de Janeiro de 2002